A privação do sono pode cobrar um pedágio devastador sobre o corpo e a mente em qualquer fase da vida, desde a infância até à velhice. Mas para os adolescentes, que estão em um estágio crítico de desenvolvimento, a privação de sono pode ser particularmente perigosa.
“Embora o sono, sem dúvida, seja crítico durante a adolescência, os adolescentes são o grupo etário que menos descansam e dormem o necessário. Mais de 90% dos estudantes americanos são cronicamente privados de sono, de acordo com uma pesquisa de 2014”, afirma o neurologista Willian Rezende do Carmo, CRM-SP 160.140.
Enquanto os Institutos Nacionais de Saúde estimam que os adolescentes precisam de pelo menos nove horas de sono por noite, apenas 9% dos estudantes do ensino médio atualmente seguem essas recomendações. Ainda mais alarmante é o fato de que 20% estão dormindo menos de cinco horas por noite.
“Uma série de fatores biológicos e de estilo de vida convergem para causar estragos no horário de sono dos adolescentes. Horários tardios para ir para a cama, o crescente uso da tecnologia, os altos níveis de estresse – além dos horários de início escolares precoces – são uma receita para a privação de sono crônica e de riscos para a saúde que vêm junto com ela”, diz o médico.
Os adolescentes são biologicamente predispostos a ficar acordados até mais tarde à noite e a dormir mais pela manhã. Essa mudança no ciclo vigília-sono dos adolescentes, que é uma parte normal do desenvolvimento, pode tornar difícil que um adolescente durmas às 9 ou 10 da noite.
Ao longo do tempo, a privação de sono do adolescente pode levar a uma série de riscos para a saúde. Listamos alguns dos riscos físicos e mentais de saúde associados com a privação de sono durante a adolescência que pais e adolescentes devem estar cientes:
Um estudo de quase 28.000 estudantes do ensino médio, publicado no início deste ano no the Journal of Youth and Adolescence, descobriu que cada hora de sono perdida está associada a um risco 38% maior de se sentir triste ou desesperado e um aumento de 58% das tentativas de suicídio. Adolescentes que dormem uma média de seis horas por noite também são três vezes mais propensos a sofrer de depressão, segundo um estudo de 2010.
“A privação do sono e a depressão andam de mãos dadas entre os adolescentes. Em vez de dar-lhes apenas medicamentos, prefiro dar-lhes a chance de dormir melhor e muito mais. A intervenção dos pais pode fazer a diferença. Uma pesquisa mostrou que jovens cujos pais definem os horários de ir para a cama são significativamente menos propensos a sofrer de depressão ou a ter pensamentos suicidas”, conta o médico.
Cerca de um em cada quatro adolescentes vai para a cama depois de 23:30, durante a semana, entre aqueles que apresentam um desempenho pior na escola e experimentam um maior sofrimento emocional. Adolescentes que não dormem o suficiente são também mais propensos a serem desatentos, impulsivos, hiperativos e desobedientes.
“Não é surpresa que adolescentes que não durmam o suficiente não apresentem o melhor comportamento acadêmico e social. Nós sabemos que a privação do sono faz com que os adolescentes tenham um pior desempenho cognitivo e emocional. Por quê? Porque o sono suporta os processos cerebrais que são fundamentais para o aprendizado, a memória e o controle das emoções. À noite, o cérebro consolida as informações adquiridas durante o dia, tornando a informação mais fácil de ser recuperada mais tarde”, explica o neurologista.
A relação entre a privação de sono e o abuso de drogas na adolescência é uma via de mão dupla, a privação de sono aumenta o risco de uso de drogas e a dependência e o uso de drogas provoca problemas de sono.
“Um estudo descobriu que para cada 10 minutos de atraso no horário em que um adolescente vai para a cama, há um aumento de 6% nas chances de que ele tenha usado álcool ou maconha, no mês anterior, enquanto outra pesquisa mostrou que os distúrbios do sono previram questões relacionadas com o abuso de bebidas e drogas”, informa o médico.
A privação de sono também pode ter um efeito negativo, a longo prazo, sobre a saúde física de uma pessoa jovem. A má qualidade do sono é associada ao diabetes e ao risco de obesidade para os adolescentes.
“Estudantes do ensino médio que são privados de sono podem estar em maior risco de diabetes e obesidade na idade adulta, e entre os adolescentes que já são obesos, não dormir o suficiente pode aumentar o risco de desenvolver diabetes mais tarde. Entre os adolescentes que já sofrem de diabetes, a privação de sono pode agravar seus problemas de saúde. A pesquisa mostrou que os adolescentes com diabetes tipo 1 podem ter mais problemas para dormir, e que a insônia, por sua vez, faz com que as dificuldades para regular o açúcar no sangue sejam maiores”, destaca Willian Rezende.
A insônia caracteriza-se pela dificuldade em adormecer, em permanecer dormindo (manutenção do sono) ou não conseguir ter um sono reparador. Esta condição é caracterizada com base em sua duração, e pode ser classificada em aguda ou crônica, e em primária ou secundária. A insônia é muito impactante para diversas funções do organismo, e seu tratamento pode incluir componentes comportamentais e psicológicos.
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