Conteúdo
Enquanto o domínio sobre os sintomas motores da doença (lentidão, tremor, rigidez) melhoram com avanço de diversos tratamentos, como medicamentos de várias classes, fisioterapias, terapia ocupacional e cirurgias de neuromodulação, os sintomas não motores, como os distúrbios do sono, ainda afetam o dia-a-dia dos pacientes e têm grande impacto sobre a qualidade de vida³ e em especial a qualidade do sono4 de quem sofre com a doença.
Em sua obra original, o descobridor da doença de Parkinson, James Parkinson, já havia observado e documentado distúrbios relacionados ao sono associados à doença. Por exemplo, que o tremor permanecia durante o sono e aumentava até o despertar, como se estivesse sempre em estado de agitação e alerta¹.
Como fator isolado, a perda da mobilidade é considerada a maior causa da perda da qualidade de vida, mas a depressão e o sono de baixa qualidade5 também contribuem significativamente para essa deterioração. Adicionalmente, sono de baixa qualidade pode levar a mal funcionamento do organismo e sonolência exagerada durante o dia. Podendo estar relacionado a risco cardiovascular e perda cognitiva.
Distúrbios do sono em pacientes de Parkinson são relatados por 25% dos seus cônjuges e podem ser causados tanto por complicações da doença quanto por reações adversas dos medicamentos, mudanças na rotina do sono relacionadas à idade, outras doenças relacionadas ao parkinson, complicações neuropsiquiátricas ou uma combinação dos efeitos anteriores6.
Como o sono das pessoas com mais de 60 anos tipicamente tem alterações por causa de outras patologias comuns a idade, é sempre importante investigar também causas não relacionadas à doença de Parkinson. Podemos citar como exemplos quadros depressivos, apneia do sono, insuficiência cardíaca, dores crônicas, diabetes, problemas de próstata, e medicamentos.
Distúrbios do sono na doença de Parkinson são em alguns casos mal interpretados pelas pessoas como não sendo um problema clínico. Mas o entendimento do problema, a identificação precoce e tratamento para manter ou melhorar a qualidade do sono são importantes e podem facilitar e melhorar os sintomas motores, melhorar a qualidade de vida tanto dos pacientes quanto de seus cuidadores, adiar a institucionalização e reduzir custos de saúde.
Dentre as patologias que afetam o sono podemos citar cãibras noturnas, distonias do amanhecer (espasmos musculares), tremores noturnos ou do amanhecer, acinesia noturna (movimento deficiente do músculo cardíaco), síndrome das pernas inquietas, noctúria (impulso de urinar diversas vezes), insônia, sono fragmentado, transtorno de comportamento do sono REM, sonolência excessiva diurna e apneia do sono7. Estes sintomas são comuns e estão presentes desde o início da doença.
Quando comparada objetivamente a quantidade e qualidade do sono dos Parkinsonianos sem tratamento em relação a controles saudáveis utilizando-se de polissonografias, a eficácia total de sono é muito menor (74% Parkinsonianos versus 87% controles) 8. Sintomas como dificuldade de manter o sono, sonhos angustiantes, noctúria, cãibras musculares, tremores matinais e sono não reparador foram muito mais frequentes nos Parkinsonianos sem tratamento com levodopa8.
A noctúria é definida pela frequência de despertares noturnos para micção maior ou igual a 2 episódios por noite. Mais que 2 despertares para micção estão relacionados a queda na qualidade do sono e por consequência de vida. As principais causas de noctúria na população geral são problemas de uretra e próstata, seguido de bexiga neurogênica e depois poliúria11. A prevalência de noctúria na população geral com mais de 70 anos varia de 28 a 60%9 enquanto que na população parkinsoniana a prevalência de noctúria varia de 35 a 78% e como primeira causa tem-se bexiga neurogênica , seguida por causas prostáticas e depois por poliúria (urinar em excesso).
Dentre os males que a noctúria causa, como distúrbios de humor, redução de produtividade, sonolência diurna, aumento do número de quedas e fraturas e aumento da mortalidade9,10, destacamos aqui a baixa qualidade e quantidade de sono profundo. Estudos comprovam que a noctúria é significativamente maior nos parkinsonianos em relação aos não parkinsonianos8 e que existe uma grande correlação entre o sono profundo e uma evolução mais branda da doença17, por isso, diagnosticar e tratar corretamente esse sintoma é de extrema importância para um acompanhamento adequado da doença de Parkinson.
Um grande problema é que atualmente temos poucos recursos para tratar a bexiga neurogênica por hiperatividade do detrusor, sem incorrer em efeitos colaterais significativos nos pacientes nessa idade e com a doença de Parkinson, mas, segundo alguns artigos, existem indícios de que terapias dopaminérgicas possam ajudar a reduzir sintomas da noctúria8 13 14 15 16.
Referências:
A apneia do sono é uma condição caracterizada por pausas na respiração que duram alguns segundos, e que ocorrem diversas vezes durante o sono. Essa doença classifica-se como Apneia Obstrutiva do Sono ou Apneia Central do Sono. Suas causas e tratamentos podem variar, e o ronco é um importante sintoma. O diagnóstico é feito pela avaliação dos sintomas e do exame de Polissonografia.
Compartilhar:
Agende sua Consulta!
Tags:distúrbios do sono, doença de Parkinson, neurologista, neurologista em moema, neurologista em são paulo, neurologista Willian Rezende do Carmo, neurologista zona sul sp, Parkinson, Parkinsonismo, Síndrome das Pernas Inquietas
Todos os utilizadores da plataforma se comprometem a divulgar apenas informações verdadeiras. Caso o comentário não trate de uma experiência pessoal, forneça referências(links) sobre qualquer informação médica à ser publicada.
O público pode realizar comentários, alterar ou apagar o mesmo. Os comentários são visíveis a todos.